FCP bate Beira Mar em exibição inconstante
Vencer e convencer depois de fugir da prisão
Este F.C. Porto é um «case study». Vence o Beira-Mar por 3-0, lidera o
campeonato a três rondas do final e, ainda assim,
levanta dúvidas. Há uma aura de fatalismo a
envolver a equipa. Uma névoa de mistério a sugerir medos e ansiedades.
«Então
como vai? Vai-se andando.» Já não faz sentido.
Tão
perto do final da época, talvez seja a altura de sossegar,
acreditar mais no que vale, afastar fantasmas
surreais. A segunda parte do Porto foi, uma vez mais, o período da
redenção
e do júbilo. Golos, bom futebol, desenvoltura,
comunhão de fé.
E antes? O que se passa com este F.C. Porto nos primeiros
45 minutos?
O campeão nacional inicia cada jogo no Dragão perdido numa ilha de melancolia. Melancolia e passividade.
Fugir dessa ilha, para a equipa de Vítor Pereira, é como escapar de Alcatraz.
Escavado
o túnel, ludibriadas as torres
de vigia, saltados os muros e burlados os
guardas, resta ainda enfrentar as águas tormentosas do oceano e as
mandíbulas dos
tubarões. Concordemos, não é simples.
O
primeiro golo surgiu à passagem da meia-hora, de grande penalidade,
mas já depois de o Beira-Mar desperdiçar três
boas oportunidades para marcar. Lá está. Há uma necessidade, quase um
vício,
deste F.C. Porto sofrer para se realizar.
Sapunaru sofreu um puxão de Dias, Hulk disparou revoltado, a bola bateu
no poste e entrou.
Tão
perto da felicidade e, ao mesmo tempo, tão
receosa de ser feliz. É uma forma de viver perigosa, até angustiante.
Uma coisa,
mais aceitável, seria constatar debilidades
graves no plantel, sublinhar lacunas irreversíveis e defeitos crónicos.
Não é
este o caso.
Há qualidade, há elementos
de nível inatacável e há a aproximação evidente ao maior objetivo da
temporada.
Então, porquê tanta dificuldade em explorar o
adversário, no caso o Beira-Mar, desde o primeiro segundo?
É
verdade
que a concentração de atletas aveirenses na
faixa central (Hugo, Bura, Jaime e Dias) tornava essa zona mais apertada
do que
o metro de Moscovo em hora de ponta. Mas,
afinal, existem as faixas laterais e talento para as agarrar.
Só
mais
tarde, quando a tranquilidade pousou no relvado,
o F.C. Porto levou a mão à consciência e jogou como pode e sabe.
Falemos,
então, desse período exuberante dos dragões.
Dois golos até aos 55 minutos, um de Marc Janko, após lance soberbo de
Hulk,
e outro do próprio Hulk. Tão simples, tão
natural, futebol vertical e confiante.
James muito mais em
contacto com
a bola, Lucho e João Moutinho (amarelados, à
semelhança de Defour), em tabelas e triangulações convincentes, até
Janko a elevar
os seus níveis e a camuflar uma série
confrangedora de equívocos técnicos.
O F.C. Porto subiu, subiu,
até alcançar
patamares realmente interessantes. Venceu bem,
naturalmente, depois de complicar e apanhar alguns sustos.
Por
favor,
alguém dê um recado ao líder da classificação
geral: vencer um jogo no Dragão não é tão complicado como era escapar da
prisão
de Alcatraz.
in Mais Futebol
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