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domingo, 22 de abril de 2012

FCP bate Beira Mar em exibição inconstante

 

Vencer e convencer depois de fugir da prisão

 Este F.C. Porto é um «case study». Vence o Beira-Mar por 3-0, lidera o campeonato a três rondas do final e, ainda assim, levanta dúvidas. Há uma aura de fatalismo a envolver a equipa. Uma névoa de mistério a sugerir medos e ansiedades. «Então como vai? Vai-se andando.» Já não faz sentido.

Tão perto do final da época, talvez seja a altura de sossegar, acreditar mais no que vale, afastar fantasmas surreais. A segunda parte do Porto foi, uma vez mais, o período da redenção e do júbilo. Golos, bom futebol, desenvoltura, comunhão de fé.

E antes? O que se passa com este F.C. Porto nos primeiros 45 minutos?

O campeão nacional inicia cada jogo no Dragão perdido numa ilha de melancolia. Melancolia e passividade. Fugir dessa ilha, para a equipa de Vítor Pereira, é como escapar de Alcatraz.

Escavado o túnel, ludibriadas as torres de vigia, saltados os muros e burlados os guardas, resta ainda enfrentar as águas tormentosas do oceano e as mandíbulas dos tubarões. Concordemos, não é simples.

O primeiro golo surgiu à passagem da meia-hora, de grande penalidade, mas já depois de o Beira-Mar desperdiçar três boas oportunidades para marcar. Lá está. Há uma necessidade, quase um vício, deste F.C. Porto sofrer para se realizar.

Sapunaru sofreu um puxão de Dias, Hulk disparou revoltado, a bola bateu no poste e entrou.

Tão perto da felicidade e, ao mesmo tempo, tão receosa de ser feliz. É uma forma de viver perigosa, até angustiante. Uma coisa, mais aceitável, seria constatar debilidades graves no plantel, sublinhar lacunas irreversíveis e defeitos crónicos. Não é este o caso.

Há qualidade, há elementos de nível inatacável e há a aproximação evidente ao maior objetivo da temporada. Então, porquê tanta dificuldade em explorar o adversário, no caso o Beira-Mar, desde o primeiro segundo?

É verdade que a concentração de atletas aveirenses na faixa central (Hugo, Bura, Jaime e Dias) tornava essa zona mais apertada do que o metro de Moscovo em hora de ponta. Mas, afinal, existem as faixas laterais e talento para as agarrar.

Só mais tarde, quando a tranquilidade pousou no relvado, o F.C. Porto levou a mão à consciência e jogou como pode e sabe.

Falemos, então, desse período exuberante dos dragões. Dois golos até aos 55 minutos, um de Marc Janko, após lance soberbo de Hulk, e outro do próprio Hulk. Tão simples, tão natural, futebol vertical e confiante.

James muito mais em contacto com a bola, Lucho e João Moutinho (amarelados, à semelhança de Defour), em tabelas e triangulações convincentes, até Janko a elevar os seus níveis e a camuflar uma série confrangedora de equívocos técnicos.

O F.C. Porto subiu, subiu, até alcançar patamares realmente interessantes. Venceu bem, naturalmente, depois de complicar e apanhar alguns sustos.

Por favor, alguém dê um recado ao líder da classificação geral: vencer um jogo no Dragão não é tão complicado como era escapar da prisão de Alcatraz.

 in Mais Futebol

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