Cristiano Ronaldo, guardador de sonhos e almas
A Bola de Ouro, as chaves para o Paraíso, sete virgens. Ofereça-se a Cristiano
Ronaldo o que o homem desejar. Genial, diabólico, português! Dois golos
soberbos, assistências deslumbrantes, comprometimento budista com a causa maior.
Portugal está nos quartos-de-final do Euro2012 e tem o melhor jogador do torneio
na linha da frente.
Cristiano Ronaldo, senhores. Tão criticado há quatro
dias, venerado nesta crónica. A reação às palavras duras foi perfeita, exemplar.
Não só pelos golos, insistimos, mas pela nobreza de virtudes e intenções
colocada nos 90 minutos do jogo.
Frio, assassino, ao disparar o passe
sublime de João Pereira no primeiro golo; tranquilo, genial, ao segurar a bola
vinda de Nani, a saudar o pobre Stekelenburg e a acometer a nação laranja de um
desmaio coletivo sem precedentes no segundo. Ronaldo chegou atrasado ao Euro2012
e com vontade de compensar todo o inconveniente causado pelo atraso.
Uma
história bonita, uma narrativa heroica escrita pelo punho de Paulo Bento e
companhia.
Nem é bom lembrar o sofrimento imposto pela Holanda nos
primeiros 15 minutos; diabo leve para terras de ninguém o golo madrugador de Van
der Vaart e abençoe as duas oportunidades falhadas pelos orange boys no
final.
Venha daí a Rep. Checa, algoz inclemente no Euro-96.
FICHA DE JOGO E AO MINUTO
Ronaldo, já se
percebeu, foi brilhante. Sim, totalmente. E o que escrever do enorme João
Moutinho, do insustentável Nani, dos graníticos Pepe e Bruno Alves? O conjunto
nacional foi mais equipa do que nunca, teve altruísmo, dignidade, ambição.
O período seguinte ao golo holandês é, por exemplo, um massacre. Antes
de Ronaldo empatar, a Seleção Nacional falhou uma, duas, três vezes
oportunidades mais do que claras. Tudo corrigido a tempo, tudo metido num canto
escuro deste texto, para disso nos olvidarmos.
Não há passado que
torture, memória seletiva que apunhale, registo histórico que nos estremeça.
Portugal só tem de se preocupar em amar o presente, dele fazer parceiro até ao
limite.
Tão ao limite como a existência alienada de Keith Richards, tão
ao limite como a carreira dos seus Stones. Um presente com futuro assegurado,
pois.
Um a um: a análise aos portugueses
Desde cedo se
percebeu que a Holanda ousava ser gigante e esquecia o barro que calçava nos
pés. A qualidade de Van Persie, Van der Vaart, Sneijder e Robben não ecoava na
defesa.
Os banais Mathijsen e Vlaar nunca lidaram com o tempo e o espaço
circundantes, os imaturos Van der Wiel e Willems soçobravam numa fragilidade
comovente diante da dimensão plena de Cristiano Ronaldo e Nani.
Adivinhava-se um Portugal demolidor, um Portugal ganhador. A defesa
funcionava, o meio-campo servia os intentos do conjunto e Hélder Postiga jogava
como complemento às diatribes dos colegas de setor.
Vários
contra-ataques viperinos, deambulações extraordinárias e um guarda-redes laranja
a adiar até ao impossível aquilo que se anunciava em pompa e circunstância.
Até Cristiano Ronaldo se lembrar que o presente não é para adiar, é para
usufruir. I can't get no Satisfaction. Queremos
mais!
Entreguem-lhe o Céu e a eternidade. Ronaldo é nosso, o Euro2012
pode ser dele.
Leia também:
A análise individual aos holandeses
in Mais Futebol
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