FC Porto contraditório vence Guimarães pela diferença mínima
O dragão precisa de fogo mas alimenta-se da dúvida.
Para quem busca o clamor do triunfo, do reconhecimento e da autoridade, a
magreza do 1-0 não sacia. Au contraire: ergue uma profunda dúvida sobre
o estilo de vida do novo FC Porto. E se esses três pontos forem obtidos
através de um penálti inexistente, como é o caso, então o sucesso passa
a ter uma conotação anorética.
Paulo Fonseca vem de um trabalho
genial em Paços Ferreira. É um bom comunicador, um homem sabedor, mas o
discurso não bate certo. As palavras nas salas de imprensa não
encontram eco harmonioso nas exibições.
Culpa do treinador? A
precocidade da época desaconselha uma análise severa. Tudo é ainda
novidade e os resultados, na verdade, são satisfatórios. Bons até. O
problema é que a equação escolhida para chegar ao produto final peca por
evidentes contradições.
Sejamos claros: nesta altura, ver este FC Porto é ver uma equipa recheada de talento e desnorte.
É
impossível perceber ou adivinhar os caminhos pretendidos pelo dragão.
Mas é imperativo também que o mesmo dragão entenda, o quanto antes, a
urgência de se encontrar a si mesmo. E para isso não pode querer abraçar
duas ou mais ideologias.
30 minutos a prometer um mundo perfeito
Frente
ao Vitória Guimarães, o FC Porto teve 30 minutos francamente bons.
Dinâmico, com movimentações acertadas, intenso e a fazer pressão alta. O
jogo podia ter ficado ali decidido, mas a finalização (outra lacuna)
tarda em ser convincente.
A partir daí, os azuis e brancos foram
uma equipa contraditória. A dispersão minou a auto-estima e a equipa
jamais soube fazer a transição entre a sensatez e o brilhantismo. O
primeiro golo não aparecia, as pernas passaram a tremer e a executar
mal.
O catálogo interminável de Quintero, um génio em potência,
também fechou demasiado cedo, embora ainda a tempo de arrancar a tal
grande penalidade inexistente. Josué fez o único golo do jogo e faltava
ainda mais de meia-hora para jogar.
Julgava-se, erradamente, que
a vencer o FC Porto recuperaria os interessantes índices da fase
inicial. Não, nunca. Quis ser paciente e fez jogo direto, quis acelerar e
abusou nos passes atrasados, numa polifonia verdadeiramente incómoda. O
coletivo foi incapaz de funcionar em uníssono, a uma voz.
Procura-se: um grande teste para este dragão
A
assistir a tudo isto da primeira fila, o Vitória Guimarães começou a
perceber que se calhar até valia a pena jogar algum futebol. Débil até
sofrer o golo, sem capacidade de incomodar minimamente, o Vitória passou
a sair em algumas transições rápidas e a beneficiar de lances de bola
parada em zonas prometedoras.
O FC Porto, lá está, hesitou e
estendeu a interrogação sobre o destino do jogo até ao apito final. A
incapacidade de guilhotinar um oponente acessível foi confrangedora e os
assobios passaram a tomar conta da banda sonora.
A liderança é
azul e branca, sim senhor, mas é uma liderança desconfiada. De tudo o
que a rodeia, inclusivamente da própria sombra. É uma liderança magra, a
necessitar de uma reprimenda e de hábitos mais saudáveis.
Para
se convencer a si próprio e definir de uma vez por todas a cartilha a
abraçar, o FC Porto precisa de aprovação num grande teste. O da próxima
terça-feira vem mesmo a calhar.
in Mais Futebol
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