Sporting não vaai além de um empate a 0 com Guimarães
Alimentar a paixão e sofrer com isso: a sina do leão.
As emoções alimentam, mas não realizam. Agitam, mas não esclarecem. Este
Sporting guia-se por um admirável instinto de
sobrevivência, sem perceber, porém, que a
felicidade está nos detalhes subtis e não nos clamores públicos de
paixão.
O
nulo de Guimarães é o espelho de uma relação
complexa, caótica até, com a vitória. A pressa de tê-la, de possuí-la o
quanto
antes, afugentou-a para paradeiro desconhecido. O
Sporting terá esquecido as mais elementares regras de atração pelo
jogo,
os mais sórdidos jogos de prazer com a bola e
com o golo.
São demasiados anos de rejeição, épocas a mais de
desejar
e perder. Só isso pode explicar a abordagem
desequilibrada, ansiosa, ainda que repleta de boas intenções, a esta
Liga. O Sporting
não ganhou em Guimarães por excesso de sangue,
adrenalina e testosterona.
Basta olhar para o banco - e alucinar
com o esbracejar convulsivo [e dispensável] de
Sá Pinto - para testemunhar o tanto que o Sporting quer ganhar e o tanto
que
sofre para lá chegar. Ainda por cima, sem
lográ-lo. Não há auto-estima que resista.
FICHA DE JOGO e AO MINUTO
A
secura de resultados é bem capaz de conduzir ao esgotamento
psicológico. O Sporting pode evitá-lo, aparenta
até ter condições materiais para isso. Basta procurar ajudar, encontrar
respostas
lógicas, um caminho que faça sentido. Este modus-operandi, concebido por Sá Pinto, privilegia o ardor em detrimento
da inteligência.
O Vitória, bastante mais
ciente do que pode e sabe, teve esse lado do conhecimento. Foi mais
inteligente,
reconheceu o primarismo das suas ações e chegou
onde queria. Fez o seu jogo, portanto, conduzindo da melhor maneira as
armas
que tinha. E eram, de longe, bem mais modestas
do que as do oponente.
Oportunidades de golo? Poucas, quase
nenhumas. Mais posse de bola? Do Sporting, pois
claro, principalmente na derradeira meia-hora. Justiça no resultado?
Sim,
é aceitável, no seguimento da ideia que esta
crónica defende.
Os Destaques: Defendi, exemplar
Houve
bons sinais no processo defensivo, com Bouhlarouz
e Rojo a cumprirem perfeitamente, mas
preocupações no ordenamento do meio-campo e no apagão de Adrien Silva.
Carrillo durou
pouco, Capel foi intermitente e Van Wolfswinkel
mal se viu entre Defendi e N'Diaye.
Não sabemos se por opção ou
se
por contingência, o Sporting renega a felicidade
para visar o êxito. A equipa não é ditosa com a bola nos pés (daí o
sacrifício
de Adrien e depois de André Martins) e torna-se
insuportável sem ela. Prefere o esgar e desvaloriza o sorriso na busca
do
bem maior, do Santo Graal que é o título
nacional e o reconhecimento generalizado.
Por muito paradoxal que
isto possa
parecer, o Sporting empenha-se em agradar aos
outros, sem nisso encontrar prazer. Há exemplos que contrariam e esmagam
esta
teoria mas, em boa verdade, só o futuro nos dirá
se é Sá Pinto que tem razão.
Do nosso ponto de vista, pode-se
vencer de outra maneira e, sobretudo, sobreviver de outro modo.
in Mais Futebol
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